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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Aranhinhas (ou driblando as dificuldades da vida)

Repare na atriz que faz uma cena de dez minutos em uma novela de 200 capítulos e entra na nossa memória. Ou no ator que apesar de figurante voa tão alto quanto o protagonista. Preste atenção na romancista que publica um livro de sucesso, sem que tenha frequentado clube de celebridades, panelinha literária. Ou no garoto da escola ruim que ganha medalhas em matemática. São os vitoriosos de guerras difíceis, até mesmo tachadas de perdidas.
É evidente que o mundo comporta todos os adjetivos, menos o de justo. Não precisamos nos perder em parágrafos para explicar isso, pois é realidade fácil de constatar e complicada de transformar. Ser filha de um pedreiro dinamarquês é bem mais promissor, em termos de oportunidades, do que ser filha de um operário brasileiro. Mas o fato é que há guerreiros que fecham os ouvidos para agouros deterministas, que olham com distanciamento para as estatísticas.
Lembra do Mané? O Garrincha. O mal alimentado, com as pernas tortas, que virou um gênio máximo da boa pelota. Lembra da Carolina? A de Jesus. Mulher negra, moradora da extinta favela paulistana do Carindé. Ela é autora do pujante Quarto de Despejo. No fundo, o destino não vem sacramentado no choro de um recém-nascido. É certo que poucos vão correr em pista de asfalto, a maioria será em chão esburacado.
No entanto - contra todos os obstáculos, catracas, muros - existem os que insistem em brilhar para si mesmos e para a coletividade. Pessoas que surpreendem o meio social e as circunstâncias ao tecerem caminhos paralelos à obviedade imposta. Pessoas que apostam ser possível enxergar horizontes pelas brechas, pelas frinchas do real. Os que fazem com um limão, a limonada. Com as mãos, a ferramenta. Com um sonho, novos comportamentos. Podemos chamá-los de aranhinhas. Bem distante da ideia de formiguinhas seguindo as ordens de uma rainha. Aranhinhas porque tecem os fios da própria teia.
Ligar fios soltos é ou não é um trabalho genial? Igual ao dos médicos colombianos, Héctor Martínez e Edgar Rey Sanabria, que perceberam que crianças prematuras ou de baixo peso, na falta de incubadoras hospitalares, tinham boas chances de sobrevivência quando colocadas no colo da mãe na posição canguru. Os dois médicos tiveram a ideia observando o animal-símbolo da longínqua Austrália.
Fonte: https://br.noticias.yahoo.com/blogs/mente-aberta/a-grandeza-e-a-gente-que-tece-071347203.html
Cigano Azul

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